Written on terça-feira, novembro 15, 2011 by Piero
Porque faz hoje 2 meses que fizemos o último post, vou iniciar uma nova série. Vou começar a escrever sobre coisas que vou aprendendo. Certamente terão muitos erros factuais e científicos, porque foi passado oralmente, mas o importante está sempre lá. Ora vamos lá à primeira.
Sabes porque é que os psicólogos usam divã? E quem o inventou?
Parece que foi o Freud e que foi apenas por uma razão prática.
Freud fazia a sua psicanálise falando com os pacientes que se sentavam numa cadeira à sua frente, mas começou a perceber que se sentia muito desconfortável em olhá-los nos olhos e tal. Entou lembrou-se que fixe era o paciente encostar-se num sofá e não olhar para ele.
A partir daí, os psicólogos, que têm pouco de criativos, passaram sempre a por as pessoas a dormir e a cobrar consultas caras para pagar o sofá.
Às vezes preciso de ver a paixão que os outros têm por alguma coisa, para me apaixonar também.
Há pouco tempo fui ao Rio de Janeiro. 1º dia, acordar, ir à varanda, querer conhecer. Assim foi, saímos de casa e siga conhecer a cidade maravilhosa. Desilusão. Prédios feios. Ruas assim para o escuro, nada que me encantasse. Vamos em direcção ao calçadão, o famoso calçadao. Chegamos. Desilusão.
Epá! O que é que se passa com esta cidade que eu ainda não percebi?! Cidade maravilhosa e coiso e Cristo Redentor e é esta merd@?!(ao fim do dia percebi).
Enquanto me mentalizava que alguma coisa o raio da cidade devia ter, olhava para quem passava ao meu lado. E reparei num fenómeno. Criancinha, cotinha, adolescente, geek, feio, giro, menino ou menina, não havia ninguém que não andasse numa longboard em grande estilo, de um lado para o outro. Parei a observar. Isto sim! O resto do grupo seguia histérico com a primeira agua de coco na mão e eu parada de boca aberta a observar e a pensar. Eu quero fazer como eles.
Olho para o meu paciente e calmo hombre e grito: quero uma longboard!!
Serviu-me de pouco pedir o resto das ferias por uma. Ai como eu sonhava deslizar pelo calçadao como aquela gente toda fazia.
A ideia foi-se escondendo à medida que me apaixonava pelo resto da cidade. Voltamos para Portugal. Tristes, tristes. E eu triste ao quadrado porque me esperava uma dura travessia no deserto. Problemasno trabalho. Eu sozinha em casa.A perspectiva assustou-me. Ele percebeu isso. E antes de ir embora tratou de me animar. Segunda-feira, ao fim do dia, quando abri a porta de casa sabendo que ninguém me esperava, caiu-me a mala da mão. Estava uma longboard encostadinha à parede, à minha espera.
Já deslizei pelo soalho da sala, e fui dois minutos ao parque de estacionamento examinar o meu próprio talento. Não é espectacular. Fico à espera que ele volte, ou que alguém me dê umas aulinhas. Até lá, vou vendo vídeos no youtube e ja sei o que é fazer carving (na teoria) e assim.
Ontem, dada a noite quente, a saudades das amigas e a ausência do namorado, fui jantar fora numa bela esplanada. Cervejinha para abrir o apetite, conversa posta em dia, Pizza para alegria estomacal e é então que a noite melhora a olhos vistos. Não há nada que me divirta mais do que uma boa história de vida dos outros, algo que eu possa observar de perto e de forma indiscreta sem que isso seja um problema.
Entre um cogumelo e um bocado de fiambre, começo a ouvir uma voz rouca. Não preciso de procurar muito, à minha frente está a dona da voz, daria-lhe 55 anos. A senhora chorava enquanto gritava frases como: “sempre me disseste que não a vias há 2 anos!” “eu nunca te faria uma coisa dessas!” “os teus filhos fazem de ti gato sapato!” “como podes estar aí de consciência tranquila”.
Eu sei, não devia alegrar-me com os soluços alheios, mas não consigo. Discussões em público, enchem-me a alma. E quando falamos de um casal na casa dos 50 a roçar comportamento de adolescente, aí é a loucura. Passa-me o politicamente correcto, rio-me, esqueço que está alguém ao meu lado a tentar conversar, e fecho o cérebro tal e qual como quando vejo o biggest loser na tv. O meu foco fica isolado naquelas pessoas. Assisti a uma discussão, que durou cerca de 1 hora e meia, que envolveu gritos, acusações, insultos, choro e culminou em grande. Ele levanta-se para ir pagar, ela levanta-se para ir embora, e não consegue. O nível de embriaguez era de tal forma que a senhora nem dois passos dava. E lá veio ele, impedindo uma saída gloriosa de cabeça erguida, agarrou-a por um braço e lá foram, agarrados um ao outro. Quem os visse só naquele segundo, a virar a esquina abraçados, diria após suspiro “ai o amor..”
Written on segunda-feira, agosto 08, 2011 by Maria
2 semanas que pareceram mais ( e ainda bem porque foi tão bom), acabaram. E agora, o meu pior pesadelo voltou. Mas há que retirar o lado bom das coisas, o bom de voltar hoje ao emprego é que pude ir à praia.
Foi provavelmente uma das semanas mais difíceis da minha vida. Precedida das duas semanas provavelmente mais incríveis da minha vida.
Por alguma razão, o ser humano não suporta bem o sentimento de dispensa, de rejeição, mesmo que tenha sido causado por pessoas pouco importantes para a sua vida.
Mas pronto, somos assim. Vivemos do nosso orgulho próprio. Queremos e gostamos de ser aceites, todos os dias e por toda a gente. Quando isso falha, ressentimo-nos. E de que maneira.
As próximas duas semanas vão pelo menos servir de apagador, um fraquinho, que deixa ver por baixo. Mas que se lixe. Serve-me perfeitamente.
Esta coisa de se aparecer sem avisar sempre me fez um bocado de confusão.
Avisem que eu posso estar de pijama a comer pipocas mesmo que sejam 5 da tarde.
É que se for um amigo, tudo bem. Agora, este género de visita aparecer assim sem modos. É muita lata. Eu lá ouvi a campainha mas nem liguei muito, o pior é que a porta estava entreaberta e ela lá entrou. Quando dei por mim, estava jáa partilhar o sofá.
O meu problema é que sou impulsiva excepto se a surpresa for muito grande. E como nunca me tinha acontecido tal coisa na vida, fiquei de boca aberta a olhar para aquele abuso, sem conseguir dizer uma palavrinha que fosse.
Caiu-me o queixo. Apenas.
Entretanto, pensei, deixa-me lá conhecer esta coisa que acabou de entrar na minha vida.
“olá, és a falta de carácter certo? prima das atitudes de merda?"
A cabra nem respondeu.
E pensei, “caraças, com isto nem vale a pena tentar.” Ignorei-a para sempre.
No outro dia, estava na agencia e o meu telemóvel tocou.
“Estou Maria, somos de uma agencia de recrutamento.”
“Ai sim? Como é que chegaram até mim?”
“Uma amiga sua inscreveu-a no nosso site”
“ok.” (Ok??!)
“chamamo-nos Matemáticas (what!??), não quer trabalhar para nós?”
“claro que quero”
de repente já estava no meu lugar, sentada à frente do meu computador. Que raio é isto da Matemáticas?
E agora, já estava no café com a Ana Rita, que dizia.
“É um óptimo sitio para trabalhares, desde que não te chateies quando tiveres de ir aos almoços formais com os cônsules. É que de resto, é a tua cara, boa vidinha e pagam muito muito bem” (lá isso.)
E eu pensei, sim, isto é para mim.
Já na sala de reuniões da minha agencia (actual):
“onde é que eu assino?”
E penso.. “xii má onda, uma reunião para me contratarem e o meu chefe ali a olhar para mim. É bem feita!”
No outro dia, decidi, vou fazer um desporto novo.(mais um?!)
A Marriana, ja tinha experimentado e adorava. Estava inscrita num clube e tudo. Tinha uma treinadora que adorava. E era a maior. Conhecida. Popular. Nesse dia fui lá ao clube. Vesti um fato. Andava descalça num chão de madeira. Ao fundo, o mar.
Apareceu então a treinadora. “Maria bora lá para a água?”
Acho que só nessa altura, com a treinadora à minha frente enquanto caminhava por corredores desconhecidos e via pessoas que não conhecia mas que me cumprimentavam com ar simpático, percebi. Ia andar de caiaque (também conhecido por kayak). O mar estava mesmo ali em baixo, aliás, todo o clube era construido por cima do mar e em todo o lado havia uma espécie de cais de madeira por onde se ia para termos acesso ao mar.(coisas bonitas)
Lá ia eu, com a treinadora a indicar o caminho, de fato de mergulho no corpo e pés descalços.
“olha quem está aqui. A croma já foi e já voltou”
Era a Marriana que estava deitada num banco de madeira, (mas deitada porquê raios!?) naquele corredor de madeira a dizer.
“estou mesmo cansada. Só quero ficar aqui a dormir.(claro, é muito natural dormir assim em bancos) Vai lá Maria, vais gostar e a Rita (treinadora) é fixe.”
E pronto, enquanto ia para o meu primeiro treino de caiaque, acordei. (mas está tudo bem.)
Cagadamerda que é o biggest loser português chiiiiiça!
Então mas a porcaria da produção da Sic não viu o original que era na Sic Mulher?! Por alguma razão aquele formato com pouca conversa e muito exercício teve audiências não?
Dois programas inteirinhos, o primeiro, bem grande e nem um pingo de suor. Só conversa, conversa, conversa e mais conversa, e de merda. Perguntinhas da treta da Júlia pinheiro, respostinhas dos gordos. Tudo, tudo, tudo errado.
A tentar juntar casalinhos. A tentar acrescentar uma personagem, um mauzão dos comandos com óculos de sol ridículos, a humilhar os concorrentes e a dar limonadinha depois de andarem até o fim da rua. Por favor?! Estão a tentar transformar o Biggest Loser no Big Brother mas com um desespero que mete dó.
Ontemainda mantive a esperança, mas quando percebi que ia ser um programa toooooodo com os gordos na balança a falarem com a Júlia Pinheiro que tenta desesperadamente não levantar os agudos, desisti. Tudo errado Sic, vocês são o Biggest Loser. By the way, Peso Pesado é um nome ridículo.
A profissão ganha outro folego quando logo de manhã me pedem para escrever uma carta ao José Luis Peixoto.
A ideia é depois ser outra pessoa a assinar por mim, mas não faz mal, ele lê nas entrelinhas.
Andava eu a tirar o curso de publicidade, quando um dos meus professores, o que eu mais admirava, me desiludiu logo na primeira aula. Bastou-lhe dizer “Isto de ser copy é giro nos primeiros tempos, depois de 4 anos, já só queremos fazer outra coisa pelo mesmo salário”
Na altura pensei que só um gajo pouco apaixonado pela publicidade poderia pensar assim. Mesmo depois disto, este foi o meu professor preferido do curso.
Hoje, 4 anos depois. Sinto o mesmo que ele. Com uma enorme diferença, não quero o mesmo salário. Quero um muito melhor.
A publicidade é um mundo meio mágico quando se começa. Tudo parece ser possível. Temos exemplos de campanhas fabulosas e sabemos que um dia, vamos estar numa ficha técnica de uma campanha daquelas. Sonhamos tão alto.
Olho agora para o estagiário da minha agência. Ainda tem aquele brilhinho nos olhos. As ideias palpitam-se para o moleskine a toda a hora. O entusiasmo.
Se tenho saudades é desse entusiasmo.
Perdi-o. Não sei quando. Sei que levei muitas vezes trabalho para casa e resolvi-o com prazer. Ter ideias no sofá, na mesa a jantar, enquanto conduzia, era fácil. Agora, depois de ideias e mais ideias deitadas para lixo. Umas pelo nosso chefe, outras pelo clientes, outras pelo nosso dupla, outras por nós próprios. E depois de ideias e mais ideias estragadas, mudadas para pior, incompreendidas, massacradas por pessoas que não a tiveram mas que têm, porque podem, mexer nelas. Cansei-me.
Sinto que entupi. Entrei em piloto automático e os meus dias de cor e imaginação foram trocados por monotonia. Faço há 4 anos os mesmos anúncios de Natal, os mesmos anúncios de jornais, de centros comerciais, de bebidas, de carros. Os mesmos anúncios chatos e enfadonhos que ninguém lê. Que ninguém liga. Que ninguém quer ver a não ser as pessoas que os pagam. Ganho concursos a outras agencias e vejo toda a gente festejar de copo na mão e a única coisa que sinto é um sorrisinho a rasgar-me a cara, porque sei, tenho a certeza, que a campanha que ganhou o concurso, não vai sair para a rua, porque alguém vai impedir que tal aconteça, não sei quem, mas alguém vai.
E tudo bem, vem mais dinheiro para a agencia, só pode ser bom, pena que eu não seja a dona da agencia.
Para mim, fica tudo na mesma. Só mais um cliente chato, mais trabalho chumbado. E mais cansaço.
Ir gravar um spot de rádio, era uma emoção. Agora dá-me uma seca impossível.
Tudo no trabalho deixou de ser importante.
Importante para mim agora é chegar a casa. É fazer desporto. É andar na rua a ver coisas. É estar com amigos. Com as pessoas que importam. As do trabalho, também percebi agora, importam pouco. O que é estranho, porque eles também são irmãos, amigos e filhos de alguém. Mas isso são outras conversas.
Dizem que esta fase chega a todos. Mas também dizem que passa. Fico à espera disso mesmo.
Hoje a mim doem-me as costas. Acordei assim. Talvez da almofada. Lembro-me de a meio da noite ouvir um camião passar, provavelmente o do lixo, e de ter pensado, caraças isto de fazerem barulho e incomodar quem está a tentar dormir devia ser punido por lei.
E entretanto, enquanto um camião me fazia pensar e uma almofada me entortava a coluna, o vizinho tossia, o gato miava, o leite azedava no frigorifico, uma criancinha qualquer tinha um pesadelo e um velhinho qualquer tinha uma insónia. Num país bem do outro lado do mundo, eram duas e tal da tarde, e o inferno fez-lhes uma visita. Neste momento no Japão, o mundo virou-se ao contrario. As imagens arrepiam.
Imagino as famílias, a tentarem falar uns com os outros e a não conseguirem. A água a entrar rua adentro e a destruir o que encontra. E o Japão até é um país preparado para lidar com este tipo de acontecimentos. Há ordenamento do território. Há sistemas de alerta e socorro preparados e mesmo assim é impossível evitar o caos.
Aqui, se isto acontecesse, e não é impossível, seria catastrófico. Inimaginável.
E a única coisa que me passa pela cabeça, é que andamo-nos todos a queixar da crise, dos recibos verdes, das injustiças e às vezes de um segundo para o outro, tudo isso, deixa de ter importância, porque o chão ruiu e com ele, tudo o que conta.
Written on segunda-feira, fevereiro 28, 2011 by Maria
"I have a feeling my career’s just peaked.
My deepest thanks to the Academy.
I’m afraid I have to warn you that I’m experiencing stirrings somewhere in the upper abdominals, which are threatening to form themselves into dance moves. Joyous as they may be for me, it would be extremely problematic if they make it to my legs before I get offstage, so I’m going to do my best to be brief with my gratitude first for being on this extraordinary list of fellow nominees, something quite formidable and possibly the greatest honor (...) And to the Anglo-Italian-American-Canadian access which makes up my family. And Livia for putting up with my fleeting delusions of royalty and who I hold responsibly for this and for really everything that’s good that’s happened since I met her.
Now if you’ll all excuse me, I have some impulses I have to tend to backstage. Thank you very much".
Written on quinta-feira, fevereiro 17, 2011 by Maria
Nunca gostei do dia. Nunca lhe liguei nenhuma. No ano passado, só depois de sermos barrados em dois restaurantes diferentes seguidos é que nos lembramos que era "dia dos namorados".
Este ano, ele ofereceu-me uma caixinha de chocolates. Mas só no dia 15 de Fevereiro, para ser do contra.
Written on quinta-feira, fevereiro 17, 2011 by Piero
Acabei agora de comer um chupa-chupa (coisa um bocado gay mas saborosa). Alguém me sabe responder porque é que todos os páus dos chupas têm este buraco?
A minha imaginação de puto dizia-me que isto era um tipo de flauta em que se podia soprar e fazer barulho, mas estranhamente nunca consegui...
Pronto é no que dá beber meia garrafa de vinho ao almoço.
Written on sexta-feira, fevereiro 04, 2011 by Piero
Toda a gente conhece esta música, certo?
Pois que eu hoje descobri que esta música é um cover desta música.
Quando descubro isto fico sempre com mixed feelings. Por um lado gosto que se façam covers e se faça renascer a música. Por outro detesto que não se dê crédito mais visível a quem criou a música. Por exemplo, sabem que o Valerie da Amy Winhouse é de uma banda de Liverpool? E como estes casos devem haver milhares por aí.
Posto isto, proponho aqui uma lei que vai mudar o mundo (ou apenas o meu): quando é cover é obrigatório por o nome do artista que a criou, no título do cover.
Written on quarta-feira, fevereiro 02, 2011 by Piero
Cuidado, este vai ser um post sobre a área profissional dos dois escritores deste blog. Quem não gostar, por favor vá para a pipoca mais doce e afins :) mas mesmo assim vai ser curto e directo, portanto mal se vai notar.
Ontem fui a um jantar em que a média de idade devia rondar os 60/70 anos. Como seria de imaginar, não ia com a maior pica do mundo e ter de beijar montes de mulheres com barba também não.
Pois que no final do jantar percebi que aqueles "jovens da 3ª idade", como eles se gostam de chamar, vivem uma vida quase paralela onde se divertem loucamente, à sua maneira.
E no caminho para casa pus-me a pensar. Esta gente é que devia ser o target da publicidade e não os jovens. Ora vejamos:
eles têm saúde e vigor não igual ao dos jovens
têm mais tempo livre que os jovens, pois a maioria são aposentados
têm MUITO mais dinheiro que os jovens
são altamente susceptíveis a desejos e aspirações como os jovens (vi roupa de marca e blackberrys por exemplo)
E com isto tudo, ainda continuamos a apostar no target jovem como o melhor target! É normal pensarmos que estas pessoas já são velhas, não têm dinheiro, não percebem nada disto que anda à volta delas, mas ontem descobri que é mentira.
Será que uma marca de TV's deve apostar em jovens que se vêem à rasca para comprar uma tv de 300€ ou nestes "jovens" que compram uma de 1000€ quase sem problemas? Ou mesmo jeans? Ou carros? etc.
Pronto era isto. Podemos voltar ao ritmo normal :P
Written on segunda-feira, janeiro 31, 2011 by Maria
Ainda não tinha percebido porque é que andava toda a gente a postar isto. Até ter visto hoje e ter lido a letra. É uma verdade pura e dura. Brilhantemente escrita. Igualmente cantada. Todos no Coliseu se identificaram e percebe-se isso a cada aplauso que surge depois de cada verso. Tão verdade, tão marcado nas nossas peles. E todos de mãos atadas, sem poder fazer nada, a não ser aplaudir os Deolinda, que disseram de forma tão simples, o que todos andamos a querer dizer. Arrepiei-me.
Deolinda - Parva que sou
Sou da geração sem remuneração
e não me incomoda esta condição.
Que parva que eu sou!
Porque isto está mal e vai continuar,
já é uma sorte eu poder estagiar.
Que parva que eu sou!
E fico a pensar,
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.
Sou da geração ‘casinha dos pais’,
se já tenho tudo, pra quê querer mais?
Que parva que eu sou
Filhos, maridos, estou sempre a adiar
e ainda me falta o carro pagar
Que parva que eu sou!
E fico a pensar,
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.
Sou da geração ‘vou queixar-me pra quê?’
Há alguém bem pior do que eu na TV.
Que parva que eu sou!
Sou da geração ‘eu já não posso mais!’
que esta situação dura há tempo demais
E parva não sou!
E fico a pensar,
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.
Não percebo porquê, mas também não foi a Mala de dinheiro, nem a Polaroid. Damn!
Se ninguém me levou a um espectaculo e depois aos bastidores do Ricky Gervais, nem calcei uns Adidas novos, nem fui correr com os Reebok para o rabo ficar riginho.
Se não foi o cão, caramba queria taaannnto! Nem as botas Timberland, nem inexplicavelmente a Casa com piscina e jardim ou o Gran Prix em Cannes.
A verdade é que nunca liguei muito à idade que faço. Desta vez, estou a ligar. Nos 18 não senti nada de especial. Estava mais concentrada na vida nova que estava a começar. Tinha acabado de chegar a Lisboa.A casa estava por minha conta, os meus amigos tinham vindo comigo. É um momento especial para quem vive nas ilhas, pegar nas coisas e apanhar um avião. Chegar e saber que connosco, vieram todos os nossos amigos do liceu. Que estamos todos juntos. Sem pais. Com casas vazias e a liberdade e o futuro por nossa conta.
Aí começaram 10 anos novos na minha vida. No curso de direito primeiro. Nas festas todas. Todas as noites. Todos os fins de semana. Casa desarrumada de quinta a domingo. Segunda vinha a empregada. Os dias na sala de alunos. Os matraquilhos, o snooker, as horas infindáveis. As faltas às aulas apesar de estar sempre na faculdade. Os amigos novos. Para sempre. A minha prima T, sempre ali ao lado,as nossas para sempre bebedeiras. A Brasserie. Conhecer Lisboa pelas linhas vermelha, amarela, azul, verde. A paixão que agora nem compreendo. A rotina desrotinada. E depois, o ódio pelo meu curso. O querer mudar. A mudança.
A turma nova. A faculdade de cara lavada de repente. Mais amigos. Para sempre e sempre e sempre, espero. O ténis outra vez. A Mariana em Milão. As Joanas em Roma. O qualromaqualq. Os amigos da madeira a desaparecer um a um. Todos a apanhar o avião de volta e eu a ficar.
Outro avião, agora para o Brasil. A Viagem. As Divas. O sufoco no bairro que ainda chateia. As noites de estudo e a casa pizza. Mtics. Rita Fuckingeiras. Ficar em casa à sexta. Descobrir a publicidade. O último dia de aulas. O fim de uma era. A Luiza em Londres.
O primeiro dia de trabalho. Os estágios. O primeiro contrato. O primeiro contrato no fim. O segundo contrato. A Nossa. A certeza. A incerteza. Ai o André. Ai o cabrão do André. A libertação. O CCP. Ai o André. A Joana em Londres. A casa nova. A porta da casa de banho que eu sempre quis. Benfica. A zona e a vida nova. Ficar em casa sexta e sabado. E amanhã, o fim dos 20. Disseram-me ontem, se chegaste lá feliz, é isso que interessa. E se cheguei.