Rima com "boa".

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Written on segunda-feira, julho 05, 2010 by Maria

Sei de uma cidade onde o dia começa com luz. A melhor de todas. Com os primeiros carros, nas pontes que agarram as margens. Com os primeiros faróis a apagar porque já não é preciso. Com as chegadas ao trabalho.
Esta cidade, onde o dia amanhece em Alfama com roupa a secar à janela e conversas entre vizinhos, também amanhece em betão de 20 andares, com bons dias baixinhos a outros vizinhos. E sei que tem escadinhas e becos pequeninos de aldeia, ao lado de avenidas de faixas bus e semáforos de cor.
Sei que ali, se fazem viagens por entre castelos e colinas. Mas também por ruas de gente que avança que nem corrente forte em dia de maré alta.
Toma-se o primeiro café com o primeiro copo de água e a rua leva-nos a passo de mocassim e de stiletto. O dia avança.
O sol brilha nos cristais do alcatrão e nos carris que vão com ele. As ruas enchem-se de gente. No meio de muitos pés a calçada vai desaparecendo devagarinho. E do geométrico preto e branco, passamos a ver um cortejo de cores dos vários sapatos e ténis que pisam em vão este chão. Passo a passo ganha-se um ritmo. Esquina a esquina, curva e contra-curva e vê-se a vida a crescer na cidade.
Há cada vez mais gente, mais passeios, mais mãos dadas e sorrisos e mais olhos que barriga que é hora de almoço.
Hora de ir à tasca ou ao novo da avenida principal experimentar a nova cozinha experimental. E sempre de babete de papel para não levar nódoas à reunião.
Seguem-se mais passos, mais pneus e o asfalto a perder cor. Riscos amarelos cruzam os cruzamentos, rasgam o sinal verde, velozes nas vias, luzes rápidas nas estradas de 1ª e mais lentas nos radares de 2ª, sempre a circular. E de uma das janelas vêem-se passar gravatas e malas, gel e cabelos no ar, lenços no pescoço, óculos de sol de massa e da moda.
Vêem-se empresários e empregados todos correm porque não tarda e chega a tarde.
A tal luz a querer ir descansar, aguenta até percebermos que já pouco se vê.
E começa o espectáculo.
Quadradinho a quadradinho a acender um a um. Prédio a prédio num movimento crescente ilumina-se a si e pouco a pouco aos muitos quarteirões. Acendem-se de novo os faróis, porque agora é preciso. E devagarinho, acende-se a cidade.
É o voltar. O sair do trabalho. A cidade quer dormir, mas há sempre alguém a não deixar, num bairro que canta no seu alto, de copo ora na mão ora no chão.
Sei de uma cidade que não dorme e no entanto, todos os dias a vemos acordar.


(às vezes é preciso escrever coisas destas para sair uma campanha)

Piccola Maria

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3 Comments

  1. Piero |

    Pedro gosta disto.

     
  2. Teira |

    Teira gosta disto mas comenta que faltou mencionar as travessas de caracóis.

     
  3. Lulylai |

    estou tao feliz que voces estao de volta!!! :) ai amo-vos buedas! :P

     

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