Ontem, depois de ter cometido umas ilegalidades digitais já que não vivo nos EUA nem no UK, vi este documentário no Hulu.com. Lemonade é um documentário sobre pessoas do mundo da publicidade que foram despedidas e que isso foi a melhor coisa que lhes aconteceu.
Há uma coisa gira em nós, seres humanos, que é ficarmos contentes quando sabemos que aquilo que sentimos e que pensamos que somos só nós, afinal as outras pessoas sentem-se da mesma maneira.
Foi exactamente isso que eu pensei quando vi estas pessoas falarem do dia em que foram despedidas. "Parece que levas uma pancada na cabeça", "sentes que falhaste", "sentes-te completamente inútil", "dizerem que tu não és necessário é a pior coisa que podes ouvir". Sentir o vazio, o acordar sem teres um sentido e um objectivo para esse dia são outros sentimentos que são comuns nos dias seguintes. Eu senti e todos estes publicitários sentiram.
No entanto o documentário dá uma visão completamente diferente da minha e de qualquer pessoa que eu conheça.
O primeiro passo que eu tomei quando fui despedido foi "ok, vou fazer tudo para encontrar outro emprego agora". Assim como eu, todas as pessoas que eu conheço fizeram o mesmo. É o normal. Mas este documentário foi buscar pessoas que não pensaram assim. Foi buscar pessoas que nesse momento pensaram "aqui está uma óptima hipótese de começar do nada! agora tenho todo o tempo do mundo e uma tela em branco. Posso fazer o que quiser".
E assim fizeram. Seja um que se tornou realizador, outro que fez café, outro que criou um site para ajudar pessoas desempregadas, outra que se tornou professora de Ioga ou outro até que mudou de sexo. No final a resposta é sempre a mesma "não, não voltaria por nada para a vida de agência".
O que realmente me inspirou no documentário foi a coragem de todos, como eu não tive e não conheço ninguém que a teve (por enquanto). Em vez de seguirem o que seria mais provável (irem à procura de emprego), aproveitaram a oportunidade para descobrirem algo sobre eles e terem uma vida muito melhor. Havia um que dizia que estava todo contente porque agora podia fazer 3 refeições ao dia!
Para mim o que ficou na cabeça foi a frase de uma senhora que disse "don't be the person who's out there looking for a job. be the person who's out there doing something interesting".
O meu Pai é psiquiatra. E exerce na ilha da MAdeira, uma região onde a primeira pessoa que precisa de análise, é o próprio presidente.
Para equilibrar a coisa, a minha mãe é psicoterapeuta.
Estar em casa com eles num domingo, podia ser um verdadeiro suplício. Porquê? Porque tudo, mas TUDO, era analisado.
Se eu me deitava no sofá a ver tv, o meu pai corria, sentava-se atrás de mim com um bloco e uma caneta na mão e dizia:
- Este é o teu espaço Maria. Falas quando quiseres, sobre o que quiseres.
E agarrava imediatamente no bloco, com a caneta a postos para tirar notas do que quer que fosse.
Se eu suspirava e dizia:
“oh pai, para lá com isso, não tenho paciência” via-o a escrever imediatamente qualquer coisa como: “conflito com o pai, complexo de Édipo mal resolvido.”
Se por outro lado, ao almoço me recusava a comer sopa feita pela minha mãe, o sermão que eu ouvia, nunca era sobre o quanto os legumes me iam fazer bem, mas sim sobre o quão aquilo era uma manifestação de agressividade latente para com ela e de como eu tinha de pensar na solução para resolver este problema.
Mas há mais, a relação com o meu irmão era a mais normal entre dois pré adolescentes. Sempre ao pontapé. Como é que isto era visto pelos meus pais? Simples, justificavam o nosso comportamento como sendo a descoberta da diferença cognitiva entre os rapazes e raparigas no seio da adolescência.